
Ciclo de Encontros com o Património
Esta iniciativa visa percorrer os museus e outros sítios monumentais de Braga, abrindo as portas das coleções e dando mostra dos trabalhos realizados, sendo que numa segunda fase, as iniciativas incidirão sobre as lojas históricas, as ruas, as praças e as freguesias de Braga.
Este projeto da Fundação Bracara Augusta pretende suscitar a reflexão, a divulgação e o debate sobre o património cultural do Município de Braga e as suas diversas implicações, designadamente, na formação de públicos, na reabilitação urbana, no desenvolvimento comercial e turístico do concelho de Braga.

Intitulada ““Do outro da cortina: do ouro etrusco à união impossível”, trata-se da quinta e última sessão do “Ciclo de Encontros com o Património”, no âmbito das “conversas no museu” – Fundação Bracara Augusta /Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa, em que irão ser abordadas mais elementos da coleção, de que se destacam as peças de ourivesaria em ouro de excecional qualidade artística. Estes tipos de joias, de produção etrusca e helenística, faziam parte do mobiliário funerário das tumbas principescas, junto com outros objetos de luxo. Irão ainda ser considerados duas magníficas peças em bronze: um capacete apulo-coríntio, um dos elementos mais importantes da panóplia dos hoplitas, e uma cista destinada a guardar objetos de adorno feminino e da higiene corporal. Como peça de excecional qualidade artística, rara entre nós, irá destacar-se uma placa em osso esculpida em relevo com o herói máximo da cultura grega, Héracles, representado com os seus atributos habituais, a clava e a famosa pele do Leão de Nemeia. Não se poderia terminar esta série de sessões sem aludir a uma das obras mais magníficas de toda a coleção Bühler-Brockhaus, um excecional mosaico policromado de origem oriental que ilustra o tema do casamento de Hipodâmia e Pélops.
Estas sessões permitiram uma incrível viagem no tempo e pelo mediterrâneo antigo, suportada cientificamente, pelas principais peças da coleção, procedentes da Antiguidade Clássica, e que colocam o Museu ao nível de museus internacionais com peças desta natureza.

“É mais fácil afinar os filósofos do que os relógios”! é o tema da próxima sessão, na terceira sessão do “Ciclo de Encontros com o Património”, no âmbito das conversas no museu” – Fundação Bracara Augusta / Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa, irão ser abordadas esculturas e relevos escultóricos de mitologia greco-romana, incluindo estelas e sarcófagos. Não faltará uma alusão às máscaras teatrais, associadas ao mundo dionisíaco e à “Nova Comédia Grega” retratando distintas personagens da comédia e da tragédia, incluindo os chamados “escravos / governantes”, conhecidos por serem pouco escrupulosos e enganar por dinheiro os seus senhores, ainda que muito espertos pela forma como atuavam. Termina esta sessão com um tema que remonta à ciência augural dos etruscos, adotada pelos romanos, como bem ilustra um magnífico Relógio de Sol em mármore que ainda conserva a haste metálica em bronze que lançava a sua sombra sobre a superfície dividida em setores temporais, permitindo observar o passar das horas ao longo do dia.

Vão ser abordadas obras em terracota e vasos em cerâmica. Píndaro, um dos maiores poetas gregos, referia-se a este tipo de objetos, “endurecidos ao fogo”, e Ateneu, destacou em particular as produções áticas, mencionando-as como “objeto de elogio”.
Os bustos de deuses e as cabeças votivas em terracota, fazem lembrar as imagens cultuadas e oferecidas nos santuários dos dias de hoje. Seguem-se uma máscara de sátiro e de um velho sileno, seres híbridos e demoníacos, ambos acompanhantes do cortejo de Diónisos, o deus do vinho. O seu sorriso parece ser um expediente para indicar o êxtase misterioso e a excitação ritual. Não menos interessante é uma placa, também em terracota, decorada com um exuberante motivo vegetal que fazia parte da ornamentação de um templo ou de um edifício público ou privado, e que se destaca pela simetria da ornamentação e a mensagem simbólica e bucólica, que alude ao crescimento, à fecundidade e à prosperidade.
Meritórios de destaque são alguns vasos com formas distintas e funções variadas, na sua maioria associados ao tema do simpósio, às festas de bebedores realizadas depois dos banquetes. Da ática provém um jarro (oinochoe) decorado um dos maiores heróis gregos, Hércules, lutando com um deus marinho, o Tritão, luta essa presenciada por duas Nereides, ninfas marinhas gentis e generosas que fogem assustadas. Revelando o gosto do casal, Hans-Peter Bühler e Marion Bühler-Brockhaus, são de especial interesse artístico alguns vasos produzidos na Magna Grécia, o território do sul da península Itálica, colonizado pelos gregos no âmbito da sua diáspora: um monumental e magnífico kratêr apúlio de volutas, profusamente decorado com temas da mitologia clássica, um kratêr de sino produzido na Campânia com tema Dionisíaco, e dois outros vasos de origem pestense, designadamente um krateriscos com uma interessantíssima representação de um ator de uma sátira ou comédia e uma kylix (taça) com o interior decorado com o jovem Diónisos, curvado sobre a sua esposa, Ariadne. Termina a sessão com uma das obras primas da coleção: um cálice votivo etrusco, provavelmente originário da zona do rio Tibre, nas proximidades de Veios, e que se destaca por apresentar uma muito rara e importante inscrição, interpretada como provável sacralização à deusa Luz.

Nesta segunda sessão do “Ciclo de Encontros com o Património”, no âmbito das conversas no museu, vamos apreciar um retrato de Trajano, o primeiro imperador não itálico, nascido na Península Ibérica. Trata-se de um retrato que exalta as qualidades humanas e que conserva a expressão da heroicidade militar. Percorrendo as obras de arte da coleção Bühler-Brockhaus, irão ser destacadas outras esculturas em mármore, como um torso com couraça de tipo militar, três estátuas de divindades femininas, que ilustram, respetivamente, a deusa da caça, uma Musa inspiradora das artes, e uma estátua monumental de uma mulher sentada, símbolo da modéstia, da virtude e da castidade. A sessão termina com a apresentação de duas pequenas esculturas em mármore que ilustram o tema de um rapaz em luta com um ganso e do imperador Cómodo na pele de jovem Hércules, lutando contra duas serpentes.

A história de Bracara Augusta é um dos temas mais apaixonantes dos bracarenses, que têm no seu passado um grande carinho e motivo de orgulho. Um rasto de tempo que atravessa e une muitas e muitas gerações. Como cidade imperial desenvolveu gradualmente importantes funções comerciais, jurídicas, religiosas, políticas e administrativas, chegando a capital da nova província da Galaecia e, nas palavras do poeta Ausónio, tornando-se numa cidade opulenta. Para acompanhar o ritmo desta cidade bimilenar importa, pois, principiar pelo ato da sua fundação, por volta do ano 16 ou 15 a.C., momento em que se atribui o nome de Bracara Augusta, a partir daí enobrecida com o nome do primeiro imperador, Augusto, e um dos povos mais poderosos da região, os Brácaros.